A pegada “PANC” da gastronomia
Você já notou um matinho camuflado no meio da sua horta, quintal ou jardim? Sabia que ele pode ser inserido na alimentação diária, movimentar a economia da região onde é cultivado e até fazer parte da alta gastronomia? “As chamadas plantas alimentícias não convencionais, ou PANCs, sempre estiveram presentes na cozinha brasileira. Mesmo assim, não são consumidas com frequência porque muitos não têm conhecimento sobre elas”, diz o professor do Senac em Minas, Michel Abras.
Entre as mais conhecidas, ele cita: ora-pro-nóbis, taioba, beldroega, maria gondó, azedinha, capuchinha, vinagreira, araruta, maxixe-do-reino, bertalha e picão preto. Altamente nutritivas, as PANCs podem contribuir para uma dieta saudável e equilibrada. Além disso, crescem espontaneamente e não necessitam de cuidados especiais no cultivo, sendo, por isso, facilmente encontradas.
Em se tratando de inovação na cozinha, elas podem ser muito úteis. “Provavelmente a avó de um grande chef de cozinha já ouviu falar nas PANCs, mas os representantes atuais da gastronomia precisam disseminar essa informação, testar novos produtos e ser criativos na proposta de novos pratos”, ressalta o professor.
Resgate da cultura gastronômica
Segundo a coordenadora geral do projeto Primórdios da Cozinha Mineira e especialista em pesquisas gastronômicas do Senac em Minas, Vani Pedrosa, para preparar suas refeições, nossos antepassados utilizavam o que estava acessível. Alimentar-se de plantas era uma questão de saber se eram venenosas ou não. Depois, começaram a encontrar nelas os primeiros sentidos do gosto, dos aromas e do paladar, passando a ser uma atitude sustentável e prática, que podia ser apreciada por qualquer classe social.
Para a especialista, a importância alimentar das plantas é inegável. No prólogo do segundo livro de culinária publicado no Brasil, o “Cozinheiro Nacional”, está inserida uma lista de mais de 30 espécies de verduras e legumes de uso comum na época. Como explica a pesquisadora, essas plantas deveriam ter sido usadas em substituição às verduras europeias nas receitas que chegavam ao Brasil. No entanto, isso não aconteceu, e muitos desses alimentos caíram em desuso.
Em função da globalização e da industrialização, hábitos simples como o cultivo dessas hortaliças e seu uso na culinária enfrentam um grande desafio, hoje em dia. Para facilitar esse processo de valorização da cultura gastronômica, um dos objetivos do projeto Primórdios é promover o resgate da história da culinária mineira e aperfeiçoar os saberes, para que possam ser aplicados na gastronomia.