Economia colaborativa: compartilhar para lucrar e viver!
Modelo de negócio que preza a sustentabilidade se tornou um estilo de vida
Aluguéis caros e altas taxas de impostos fizeram as vendas no comércio tradicional despencarem. Em 2015, quase cem mil lojas fecharam as portas no Brasil, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Na contramão da crise, tem muita gente lucrando. Mas pode isso? Novos empreendedores passaram a enxergar a economia colaborativa ou de compartilhamento como uma possibilidade real de ganhos.
Patrão por um dia
Em Belo Horizonte, a primeira cozinha compartilhada do mundo se instalou na rua Carandaí, no bairro Funcionários. A cada dia, um chef assume o espaço da House of Food, como é o caso de Ana Luiza Delucca, com seu yakissoba vegetariano. A chef Maria Caramêz, da Oca de Mani, também já locou a cozinha para apresentar os sabores do Pará. “Mais da metade do faturamento do restaurante vai para o chef, a outra porcentagem é para pagar despesas do espaço e funcionários”, explica o gerente do House of Food, Marcos Nunes. O restaurante, que está com a agenda lotada, funciona de terça a sábado, a partir das 11h30. Lá, também é possível utilizar-se do coworking, local de trabalho compartilhado, a exemplo de empreendimentos como o Guaja e o ImpactHub Beagá.
Por um espaço na prateleira
Divulgar um produto numa arara ou prateleira de uma loja conceituada, ao lado de mais de 40 marcas. Normal? Talvez! O diferencial da Mooca está na forma colaborativa em que os produtos, criados por artesãos locais, são desenvolvidos. “Tudo é dividido entre eles, dos custos fixos da loja à troca de informações sobre mercado, matéria-prima, fornecedores. É uma verdadeira rede de negócios, cocriação e colaboração”, destaca a designer de interiores Marina Montenegro, que tem como sócia a publicitária Fabiana Soares. Elas oferecem consultoria individualizada para cada tipo de negócio, focada sempre no processo criativo. A Mooca está localizada no tradicional bairro de Beagá, a Savassi.
Dá pra desapegar?
Nessa onda colaborativa, as pessoas passaram a se ajudar mutuamente para obterem o que precisam, para economizar e até gerar renda. A experiência tornou-se a moeda de troca mais valiosa que a aquisição do produto em si. Afinal, o que é mais importante: o furo ou a furadeira? Quando Maria Fernanda Reis, mãe do Davi, de 5 anos, engravidou da Mariah, optou por trocar as roupas que não serviam mais no filho e até nela mesma para montar o enxoval da pequena. Maria Fernanda incentivou outras mães a criarem grupos de troca de vestuários, brinquedos e demais apetrechos dos bebês. “As mães que tinham roupas importadas queriam vendê-las pela metade do preço. Mas eu avisei: gente, é desapego! Daí, o valor chegou a ¼ do original”, comemora. Hoje, Maria Fernanda participa de mais de 15 grupos, como Meu Bebê Cresceu e Desapego Infantil. “Meu marido brinca que até hoje não conseguiu comprar um brinquedo para nossa filha. É tudo na base da troca. Isso ajuda no orçamento familiar”, completa. Agora, a mãe visionária planeja montar seu negócio virtual baseado no desprendimento das coisas.
Mas, afinal, toda economia é colaborativa? Ou a vida é cíclica?
A crise econômica, por um lado, foi uma grande aliada da economia colaborativa, já que fez com que a população, principalmente a classe média, buscasse alternativas de consumo, passando a aderir aos serviços de transporte mais econômicos como o Uber ou de hospedagem como o Airbnb. Mas, pare e pense: qual economia não é colaborativa? Quando você compra um chocolate, imagine quantas pessoas – do plantador de cacau ao vendedor – colaboraram para que o produto chegasse a sua mão? Mito ou não, essa nova forma de negociar sensibiliza a troca do bem, o compartilhamento, o contato social.
Com a ajuda da tecnologia, as pessoas criam suas próprias redes ou grupos para trocarem informações, produtos e serviços, diminuindo, assim, a dependência de intermediários, ajudando a reduzir as desigualdades socioeconômicas e, ainda, a preservar a natureza. Muita gente acredita que essa é uma prática antiga, da época da vovó. Itens como as geladeiras, por exemplo, eram mais duráveis e roupas confeccionadas em casa eram passadas de geração a geração. Hoje, essa nova economia vem à tona para se gladiar com a era do consumo.